terça-feira, 28 de outubro de 2014

QUESTÕES SOBRE REALISMO, NATURALISMO E PARNASIANISMO – PROFESSOR ALVES





TEXTO I
SONETO PARA GUIDINHA

Veem essa mulher atada a grilhões,                                * grilhões = correntes, simboliza
Que aos nossos olhos desfila altaneira?                             prisão
Vá que finja passar dessa maneira,                                  * altaneira = de cabeça erguida
Foi senhora de bens e de milhões.
           
Antes ria alto e barrava os barões                                     * cardeira = de cardo,
E só respeitava sua bandeira                                                que machuca, humilhante
Feita de ímpeto e palavra cardeira,
De todos recebia bajulações.

O despudor que lhe penetrou a casa                                  * despudor = falta de vergonha
E também lhe instigou a índole impudica                         * impudica = sem pudor,
Levou-a ao jardim suspenso da perfídia.                               imoral

Por isso hoje lhe cortaram a asa                                         * perfídia = traição
E sem moral acorrentada fica,
Já seus bens jazem entregues a desídia                               * desídia = negligência,
                                                                                               Sem cuidados
(Professor Alves, Maio de 2004, baseado no romance
Dona Guidinha do Poço, postado no blog
falvesandrade.blogspot.com)

01. A narrativa presente no soneto acima, baseado no romance Dona Guidinha do Poço, pode ser divido em dois momentos, que podem ser indicados pelos advérbios:

a) antes e hoje;
b) que e por isso;
c) também e já;
d) sem e fica;
e) veem e levou.

02. O romance em que foi baseado o soneto acima, filia-se ao Realismo. A alternativa que contem a melhor justificativa para essa afirmação é:

a) o romance conta a história de uma mulher muito pobre que, depois de muito penar, consegue subir na vida e desfila altaneira por entre aqueles que a humilharam um dia.
b) uma das principais características do romance realista é a queda moral das personagens. Essa descida moral fica clara na terceira estrofes.
c) O romancista realista compõe seu texto a partir da sua imaginação. Nos versos 03 e 04  da segunda estrofe, surge a imagem de uma mulher fora dos padrões da época. Eis portanto um romance realista, uma vez que uma mulher com essa índole é fruto da imaginação do seu autor.
d) O escritor realista busca a subjetividade na formação de suas personagens. A personagem descrita no soneto, aparece no romance idealizada, sendo, pois a própria personificação da realidade.
e) A personagem descrita no soneto  destoa do pictórico romântico pela sua audácia, pois em nenhum romance romântico a mulher foi protagonista.

03. O poema acima  possui a seguinte característica da estética parnasiana:

a) Aborda temática social, fazendo-lhe críticas e apontando defeitos.
b) Possui versos livre e brancos.
c) Subjetivismo, uma vez que o poeta se vale da imaginação para criar o conflito registrado no poema.
d) Descritivismo. O soneto procura a impessoalidade na descrição de um quadro.
e) Vocabulário rico, com palavras que fogem ao vocabulário comum.

TEXTO II

E, enquanto Juju percorria a estalagem, conduzida em triunfo, Léoni, na casa da comadre, cercada por uma roda de lavadeiras e crianças, discreteava sobre assuntos sérios, falando compassadamente, cheia de inflexões de pessoa prática e ajuizada, condenando maus atos e desvarios, aplaudindo a moral e a virtude. E aquelas mulheres, aliás tão alegres e vivazes, não se animavam, defronte dela, a rir nem levantar a voz, e conversavam a medo cochichando, a tapar a boca com a mão, tolhidas de respeito pela cocote, que as dominava na sua sobranceria de mulher loura vestida de seda e coberta de brilhantes. A das Dores sentiu-se orgulhosa, quando Léonie lhe pousou no ombro a mãozinha enluvada e recendente, para lhe perguntar pelo seu homem. E não se fartavam de olhar para ela, de admirá-la; chegavam a examinar-lhe a roupa, revistar-lhe as saias, apalpar-lhe as meias, levantando-lhe o vestido, com exclamações de assombro à vista de tanto luxo de rendas e bordados. A visita sorria, por sua vez comovida. Piedade declarou que a roupa branca da madama era rica nem como a da Nossa Senhora da Penha. E Nenen, no seu entusiasmo, disse que a invejava do fundo do coração, ao que a mãe lhe observou que não fosse besta. O Albino contemplava-a em êxtase, de mão no queixo, o cotovelo no ar. A Rita Baiana levara-lhe um ramalhete de rosas. Esta não se iludia com a posição da loureira, mas dava-lhe apreço talvez por isso mesmo e, em parte, porque a achava deveras bonita. “Ora! era preciso ser bem esperta e valer muito para arrancar assim da pele dos homens ricos aquela porção de joias e todo aquele luxo de roupa por dentro e por fora!” - Não sei, filha! pregava depois a mulata, no pátio, a uma companheira; seja assim ou assado, a verdade é que ela passa muito bem de boca e nada lhe falta: sua boa casa; seu bom carro para passear à tarde; teatro toda a noite; bailes quando quer e, aos domingos, corridas, regatas, pagodes fora da cidade e dinheirama grossa para gastar à farta! Enfim, só o que afianço é que esta não está sujeita, como a Leocádia e outras, a pontapés e cachações de um bruto de marido! É dona das suas ações! livre como o lindo amor! Senhora do seu corpinho, que ela só entrega a quem muito bem lhe der na veneta!
(http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000003.pdf)

04. De acordo com a leitura dos primeiros períodos, depreende-se que diante de Léonie, as personagens do cortiço se mostram:

a) alegres e falantes;
b) tímidas e discretas;
c) alvoroçadas e gasguitas;
d) tristes e caladas;
e) invejosas e desconfiadas.

05. De acordo com as palavras de Rita Baiana, Léonie se diferenciava de Leocádia:

a) porque esta permitia ser espancada pelo marido, enquanto aquela, tinha os homens sob os pés.
b) pois enquanto a cocote bebia e vivia à farta, Leocádia, devido à sua condição moral não admitia certos abusos.
c) Leocádia era uma cocote, moça de programa, enquanto Léonie era bem casada e o marido dava-lhe tudo que quisesse.
d) Enquanto Leocádia era uma bêbada, que vivia tomando cachaça, Léonie só bebia vinho, apesar de viverem no mesmo ambiente.
e) Léonie era a melhor lavadeira por isso vivia bem, enquanto Leocádia não entregava suas roupas em dia, vivia sem dinheiro, por isso às vezes tinha de fazer-se de babá de Juju, a filha de Léonie.

06. O trecho acima retrata bem o universo dos romances naturalistas. A passagem que melhor representa o tom do romance naturalista é a seguinte:

a) “..Juju percorria a estalagem, conduzida em triunfo...”
b) “...cheia de inflexões de pessoa prática e ajuizada, condenando maus atos e desvarios, aplaudindo a moral e a virtude.”
c) “A das Dores sentiu-se orgulhosa, quando Léonie lhe pousou no ombro a mãozinha enluvada e recendente, para lhe perguntar pelo seu homem.”
d) “Piedade declarou que a roupa branca da madama era rica nem como a da Nossa Senhora da Penha.”
e) “...só o que afianço é que esta não está sujeita, como a Leocádia e outras, a pontapés e cachações de um bruto de marido!”

07. Marque a afirmativa correta:
a) O Parnasianismo caracterizou-se, no Brasil, pela busca da perfeição formal na poesia.
b) O Parnasianismo determinou o surgimento de obras de tom marcadamente coloquial.
c) O Parnasianismo, por seus poetas, preconizava o uso do verso livre.
d) O Parnasianismo brasileiro deu ênfase ao experimentalismo formal.
e) O Parnasianismo foi o responsável pela afirmação de uma poesia de caráter sugestivo e musical.

08. A principal diferença entre Realismo e Naturalismo está no tratamento dado:

a) às relações amorosas;
b) à abordagem psicológica.
c) à análise dos grupos sociais distintos.
d) às descrições físicas das personagens.
e) ao vocabulário utilizado nos diálogos entre pares.

09. A tríade parnasiana é formada por:

a) Dom Casmurros – Quincas Borba – Memória Póstuma de Brás Cubas;
b) Casa de Pensão – O Mulato – O Cortiço;
c) José de  Alencar – Machado de Assis – Aloísio Azevedo;
d) Raimundo Correa – Olavo Bilac – Alberto de Oliviera;
e) Alphonsus de Guimarães – Mário Pederneiras – Cruz e Sousa.

10. Não está correta a firmação sobre o Realismo/Naturalismo da alternativa:

a) As obras Realistas possuem títulos com nomes das personagens enquanto as obras realistas são intituladas por seus ambientes.
b) No Realismo a predominância na análise das personagens está nos aspectos psicológicos.
c) Para o autor Realista a obra deve ser escrita a partir da experiência da análise social.
d) Os escritores naturalistas escreviam sempre sobre o mundo natural, dando destaque ao estudo da fauna, para justificar a teoria da lei do mais forte.
e) O determinismo foi a grande fonte de inspiração para os escritores naturalistas.



gabarito
01. A
02. B
03. E
04. E
05. A
06. E
07. A
08. C
09. D
10. D

domingo, 31 de agosto de 2014

O ALIENISTA, MACHADO DE ASSIS




Classifica-se em um conto, na medida em que, para alguns críticos, não ter a superficialidade psicológica das novelas, apesar de se distribuir em momentos, episódios.
I- Narrador

Em O Alienista, escrito em TERCEIRA PESSOA, Machado de Assis usa, inicialmente, a autoridade das crônicas antigas, como podemos perceber no início do texto:

'As crônicas da Vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico...'
Narrador observador-onisciente, que procura a objetividade, CARACTERÍSTICA DA LITERATURA REALISTA. O narrador conta ainda com o apoio de um segundo narrador, o cronista que repassou a história. Esse outro narrador dá respeitabilidade ao enredo devido à questão temporal.
II- TEMPO
A narrativa possui tempo cronológico, apesar de psicológico. Não flashback.
III- LUGAR
O espaço da narrativa é a pequena cidade de Itaguaí, microcosmo que, na verdade, representa os espaços diversos em que ocorre a história dos homens, seus interesses, suas ambições e com seus TIPOS: O Boticário Crispim, á vido pelo poder, desmoralizado pela esposa, quando esta, sem querer, prova sua (in)sanidade mental, o que a livra da Casa Verde; Os vereadores, legisladores com suas eternas manias de criar impostos; O Padre Lopes, representante de uma Igreja mais progressista (“Não me alisto entre seus inimigos porque não inimigos”); a população, em busca de ordem que lhe restitua, não à paz, mas a perspectiva de ter o que dizer nas esquinas, bares, lares; e o próprio Simão Bacamarte, estereótipo acabado de cientista.
IV- CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA MACHADIANA
HUMOR FINO, CRÍTICA EM FORMA DE IRONIA
TRECHOS QUE NOS MERECEU ATENÇÃO:
1. D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos.
2. Dali foi à Câmara, onde os vereadores debatiam a proposta, e defendeu-a com tanta eloquência, que a maioria resolveu autorizá-lo ao que pedira, votando ao mesmo tempo um imposto destinado a subsidiar o tratamento, alojamento e mantimento dos doidos pobres. A matéria do imposto não foi fácil achá-la; TUDO ESTAVA TRIBUTADO EM ITAGUAÍ. Depois de longos estudos, assentou-se em permitir o uso de dois penachos nos cavalos dos enterros. Quem quisesse emplumar os cavalos de um coche mortuário pagaria dois tostões à Câmara, repetindo-se tantas vezes esta quantia quantas fossem as horas decorridas entre a do falecimento e a da última bênção na sepultura.
3. Como fosse grande arabista, achou no Corão que Maomé declara veneráveis os doidos, pela consideração de que Alá lhes tira o juízo para que não pequem. A ideia pareceu-lhe bonita e profunda, e ele a fez gravar no frontispício da casa; mas, como tinha medo ao vigário, e por tabela ao bispo, atribuiu o pensamento a Benedito VIII, merecendo com essa fraude aliás pia, que o Padre Lopes lhe contasse, ao almoço, a vida daquele pontífice eminente.
4. Ao cabo de sete dias expiraram as festas públicas; Itaguaí, tinha finalmente uma casa de orates.
5. E tinha razão. De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito. Ao cabo de quatro meses, a Casa Verde era uma povoação.
6. Havia loucos de diversas natureza: uns com mania de sábio, outros por amor, “Era um desgraçado, a quem a mulher deixou por seguir um peralvilho. Mal descobrira a fuga, armou-se de uma garrucha, e saiu-lhes no encalço; achou-os duas horas depois, ao pé de uma lagoa, matou-os a ambos com os maiores requintes de crueldade.” ; Outros havia com mania de grandeza, outros com mania de religioso, queria ser Deus...
7. Crispim amava a mulher, e, desde trinta anos, nunca estiveram separados um só dia. Assim se explicam os monólogos que ele fazia agora, e que os fâmulos lhe ouviam muita vez:—"Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesária? Bajulador, torpe bajulador! Só para adular ao Dr. Bacamarte. Pois agora aguenta-te; anda, aguenta-te, alma de lacaio, fracalhão, vil, miserável. Dizes amém a tudo, não é? aí tens o lucro, biltre!"—E muitos outros nomes feios, que um homem não deve dizer aos outros, quanto mais a si mesmo. Daqui a imaginar o efeito do recado é um nada. Tão depressa ele o recebeu como abriu mão das drogas e voou à Casa Verde.

8. “..e acrescentou que era ‘caso de matraca’. (EXPLICAÇÃO DE EXPEDIENTES)
Capítulo V, O Terror
9. Quatro dias depois, a população de Itaguaí ouviu consternada a notícia de que um certo Costa fora recolhido à Casa Verde.
10. Imagina-se a consternação de Itaguaí, quando soube do caso. Não se falou em outra coisa, dizia-se que o Costa ensandecera, no almoço, outros que de madrugada; e contavam-se os acessos, que eram furiosos, sombrios, terríveis,—ou mansos, e até engraçados, conforme as versões.
11. Bacamarte espetara na pobre senhora um par de olhos agudos como punhais. Quando ela acabou, estendeu-lhe a mão polidamente, como se o fizesse à própria esposa do vice-rei, e convidou-a a ir falar ao primo. A mísera acreditou; ele levou-a à Casa Verde e encerrou-a na galeria dos alucinados.
12. Tudo isso era naturalmente a capa do velhaco. E um dos mais crédulos chegou a murmurar que sabia de outras coisas, não as dizia, por não ter certeza plena, mas sabia, quase que podia jurar.
13. O pobre Mateus, apenas notou que era objeto da curiosidade ou admiração do primeiro vulto de Itaguaí redobrou de expressão, deu outro relevo às atitudes... Triste! Triste! não fez mais do que condenar-se; no dia seguinte, foi recolhido à Casa Verde.
14. mil outras explicações, que não explicavam nada, tal era o produto diário da imaginação pública.
15. Três horas depois, cerca de cinquenta convivas sentavam-se em volta da mesa de Simão Bacamarte; era o jantar das boas-vindas. D. Evarista foi o assunto obrigado dos brindes, discursos, versos de toda a casta, metáforas, amplificações, apólogos.
16. O atrevimento foi grande, pensaram as duas damas. E uma e outra pediam a Deus que removesse qualquer episódio trágico,— ou que o adiasse, ao menos para o dia seguinte. Sim, que o adiasse.
17. D. Evarista ficou estupefata quando soube, três dias depois, que o Martim Brito fora alojado na Casa Verde.
18. Pois o Gil Bernardes, apesar de se saber estimado, teve medo quando lhe disseram um dia que o alienista o trazia de olho; na madrugada seguinte fugiu da vila, mas foi logo apanhado e conduzido à Casa Verde.
Capítulo VI: A Rebelião
19. "essa Bastilha da razão humana", — expressão que ouvira a um poeta local e que ele repetiu com muita ênfase. Disse, e a um sinal todos saíram com ele.
20. Entretanto, a arruaça crescia. Já não eram trinta, mas trezentas pessoas que acompanhavam o barbeiro, cuja alcunha familiar deve ser mencionada, porque ela deu o nome à revolta; chamavam-lhe o Canjica—e o movimento ficou célebre com o nome de revolta dos Canjicas.
21. D. Evarista teve notícia da rebelião antes que ela chegasse; veio dar-lha uma de suas crias. Ela provava nessa ocasião um vestido de seda,—um dos trinta e sete que trouxera do Rio de Janeiro,—e não quis crer. 
—Há de ser alguma patuscada, dizia ela, mudando a posição de um alfinete. Benedita, vê se a barra
está boa. 
—Está, sinhá, respondia a mucama de cócoras no chão, está boa. Sinhá vira um bocadinho. Assim. Está muito boa. 
—Não é patuscada, não, senhora; eles estão gritando: — Morra o Dr. Bacamarte!!! o tirano! dizia o moleque assustado. 
—Cala a boca, tolo! Benedita, olha aí do lado esquerdo; não parece que a costura está um pouco enviesada? A risca azul não segue até abaixo; está muito feio assim; é preciso descoser para ficar igualzinho e...
22. O barbeiro tornou logo a si e, agitando o chapéu, convidou os amigos à demolição da Casa Verde; poucas vozes e frouxas lhe responderam. Foi nesse momento decisivo que o barbeiro sentiu despontar em si a ambição do governo; pareceu-lhe então que, demolindo a Casa Verde e derrocando a influência do alienista, chegaria a apoderar-se da Câmara, dominar as demais autoridades e constituir-se senhor de Itaguaí.
Capítulo VII: O Inesperado
23. A derrota dos Canjicas estava iminente quando um terço dos dragões,—qualquer que fosse o motivo, as crônicas não o declaram,—passou subitamente para o lado da rebelião.
Capítulo VIII: As angústias do Boticário
24. o seu ato, portanto, foi de egoísta, de um miserável egoísta; minha situação é outra Insistindo, porém, a mulher, não achou Crispim Soares outra saída em tal crise senão adoecer; declarou-se doente e meteu-se na cama.
Capítulo IX: Dois lindos casos
25. Engana-se Vossa Senhoria, disse o barbeiro depois de alguma pausa, engana-se em atribuir ao governo intenções vandálicas. Com razão ou sem ela, a opinião crê que a maior parte dos doidos ali metidos estão em seu perfeito juízo, mas o governo reconhece que a questão é puramente científica e não cogita em resolver com posturas as questões científicas.. Demais, a Casa Verde é uma instituição pública; tal a aceitamos das mãos da Câmara dissolvida. Há, entretanto, — por força que há de haver um alvitre intermédio que restitua o sossego ao espírito público.
26. Só vos recomendo ordem. E ordem, meus amigos, é a base do governo...
27. João Pina mostrou claramente, com grandes frases, que o ato de Porfírio era um simples aparato, um engodo, em que o povo não devia crer. Duas horas depois caía Porfírio! ignominiosamente e João Pina assumia a difícil tarefa do governo.
28. Ele respeitava as namoradas e não poupava as namoradeiras, dizendo que as primeiras cediam a um impulso natural e as segundas a um vício. Se um homem era avaro ou pródigo, ia do mesmo modo para a Casa Verde; daí a alegação de que não havia regra para a completa sanidade mental.
Capítulo XI: O Assombro de Itaguaí
29. que, desse exame e do fato estatístico resultara para ele a convicção de que a verdadeira doutrina não era aquela, mas a oposta, e portanto que se devia admitir como normal e exemplar o desequilíbrio das faculdades
Capítulo XII: O final do parágrafo IV
30. João Pina foi absolvido, atendendo-se a que ele derrocara um rebelde. Os cronistas pensam que deste fato é que nasceu o nosso adágio:—ladrão que furta ladrão tem cem anos de perdão;—adágio imoral, é verdade, mas grandemente útil.
31. Entretanto, a Câmara que respondera ao ofício de Simão Bacamarte com a ressalva de que oportunamente estatuiria em relação ao final do § 4°, tratou enfim de legislar sobre ele. Foi adotada sem debate uma postura autorizando o alienista a agasalhar NA CASA VERDE AS PESSOAS QUE SE ACHASSEM NO GOZO DO PERFEITO EQUILÍBRIO DAS FACULDADES MENTAIS.
32. Não acontecia o mesmo ao vereador Galvão, cujo acerto na objeção feita, e cuja moderação na resposta dada às invectivas dos colegas mostravam da parte dele um cérebro bem organizado; pelo que rogava à Câmara que lho entregasse. A Câmara sentindo-se ainda agravada pelo proceder do vereador Galvão, estimou o pedido do alienista, e votou unanimemente a entrega.
33. E, parecendo-lhe vantajoso reuni-los, porque a astúcia e velhacaria do marido poderiam de certo modo curar a beleza moral que ele descobrira na esposa, disse Simão Bacamarte..
34. Os alienados foram alojados por classes. Fez-se uma galeria de modestos; isto é, os loucos em quem predominava esta perfeição moral; outra de tolerantes, outra de verídicos, outra de símplices, outra de leais, outra de magnânimos, outra de sagazes, outra de sinceros, etc. Naturalmente, as famílias e os amigos dos reclusos bradavam contra a teoria; e alguns tentaram compelir a Câmara a cassar a licença. A Câmara porém, não esquecera a linguagem do vereador Galvão, e, se cassasse a licença, vê-lo-ia na rua e restituído ao lugar; pelo que, recusou. Simão Bacamarte oficiou aos vereadores, não agradecendo, mas felicitando-os por esse ato de vingança pessoal.
35. Preso por ter cão, preso por não ter cão! exclamou o infeliz.          
36. No fim de cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde; todos curados! O vereador Galvão, tão cruelmente afligido de moderação e equidade, teve a felicidade de perder um tio; digo felicidade, porque o tio deixou um testamento ambíguo, e ele obteve uma boa interpretação corrompendo os juízes e embaçando os outros herdeiros.
(Por Professor Alves)
01.  Assinale com um V as verdadeiras e com um F as falsa.
a) ( ) Além de focalizar a loucura, O alienista é uma fábula política: o autor fala sobre o poder,
a dominação que algumas pessoas exercem sobre outras.
b) ( ) A obra pretende exaltar e promover a cidade de Itaguaí, de onde o autor é natural, e agrada a todos os seus habitantes.
c) ( ) Em O alienista, Machado de Assis antecipa as ideias revolucionárias de Freud, que mudou os critérios de análise das perturbações mentais.
d) ( ) Na obra de Machado de Assis não há propriamente mocinhos ou bandidos, mas seres humanos com toda sua complexidade.
02.  Simão Bacamarte se recolhe à Casa Verde:
a) para alcançar uma cura milagrosa.
b) por reunir em si a ciência e a loucura.
c) porque ameaçava a segurança pública.
d) posto que desconfiava das opiniões alheias.
e) pois contaminaria as pessoas com sua loucura

03. O enredo de O alienista conta com a participação de um grande número de personagens. Vamos identificar alguns
deles, relacionando a coluna da esquerda com a da direita.
( a ) Crispim Soares                    (  ) Barbeiro que liderou a primeira revolta contra o alienista

( b ) Costa                                    (  ) Farmacêutico de Itaguaí com quem o alienista troca ideias.

( c ) Mateus                                 (  ) Comandante da segunda rebelião, que depôs o líder da   
                                                           primeira.
( d ) Porfírio                                (  ) Homem muito rico que adorava contemplar sua própria casa.
( e ) João Pina                             (  ) Rico empobrecido por emprestar dinheiro a todos ,sem se    
                                                            importar com o pagamento