Classifica-se em um conto, na medida em que, para alguns
críticos, não ter a superficialidade psicológica das novelas, apesar de se
distribuir em momentos, episódios.
I- Narrador
Em O Alienista, escrito em TERCEIRA PESSOA, Machado de Assis usa, inicialmente, a autoridade das crônicas antigas, como podemos perceber no início do texto:
'As crônicas da Vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico...'
Narrador observador-onisciente,
que procura a objetividade, CARACTERÍSTICA DA LITERATURA REALISTA. O narrador
conta ainda com o apoio de um segundo narrador, o cronista que repassou a
história. Esse outro narrador dá respeitabilidade ao enredo devido à questão
temporal.
II- TEMPO
A narrativa possui tempo cronológico,
apesar de psicológico. Não flashback.
III- LUGAR
O espaço da narrativa é a pequena
cidade de Itaguaí, microcosmo que, na verdade, representa os espaços diversos
em que ocorre a história dos homens, seus interesses, suas ambições e com seus
TIPOS: O Boticário Crispim, á vido pelo poder, desmoralizado pela esposa,
quando esta, sem querer, prova sua (in)sanidade mental, o que a livra da Casa
Verde; Os vereadores, legisladores com suas eternas manias de criar impostos; O
Padre Lopes, representante de uma Igreja mais progressista (“Não me alisto
entre seus inimigos porque não inimigos”); a população, em busca de ordem que
lhe restitua, não à paz, mas a perspectiva de ter o que dizer nas esquinas,
bares, lares; e o próprio Simão Bacamarte, estereótipo acabado de cientista.
IV- CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA
MACHADIANA
HUMOR FINO, CRÍTICA EM FORMA DE
IRONIA
TRECHOS QUE NOS MERECEU ATENÇÃO:
1. D. Evarista mentiu às
esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos.
2. Dali foi à Câmara, onde os
vereadores debatiam a proposta, e defendeu-a com tanta eloquência, que a
maioria resolveu autorizá-lo ao que pedira, votando ao mesmo tempo um imposto
destinado a subsidiar o tratamento, alojamento e mantimento dos doidos pobres.
A matéria do imposto não foi fácil achá-la; TUDO ESTAVA TRIBUTADO EM ITAGUAÍ.
Depois de longos estudos, assentou-se em permitir o uso de dois penachos nos
cavalos dos enterros. Quem quisesse emplumar os cavalos de um coche mortuário
pagaria dois tostões à Câmara, repetindo-se tantas vezes esta quantia quantas
fossem as horas decorridas entre a do falecimento e a da última bênção na
sepultura.
3. Como fosse grande arabista,
achou no Corão que Maomé declara veneráveis os doidos, pela consideração de que
Alá lhes tira o juízo para que não pequem. A ideia pareceu-lhe bonita e
profunda, e ele a fez gravar no frontispício da casa; mas, como tinha medo ao
vigário, e por tabela ao bispo, atribuiu o pensamento a Benedito VIII,
merecendo com essa fraude aliás pia, que o Padre Lopes lhe contasse, ao almoço,
a vida daquele pontífice eminente.
4. Ao cabo de sete dias expiraram
as festas públicas; Itaguaí, tinha finalmente uma casa de orates.
5. E tinha razão. De todas as
vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram
mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito. Ao
cabo de quatro meses, a Casa Verde era uma povoação.
6. Havia loucos de diversas
natureza: uns com mania de sábio, outros por amor, “Era um desgraçado, a quem a
mulher deixou por seguir um peralvilho. Mal descobrira a fuga, armou-se de uma
garrucha, e saiu-lhes no encalço; achou-os duas horas depois, ao pé de uma
lagoa, matou-os a ambos com os maiores requintes de crueldade.” ; Outros havia
com mania de grandeza, outros com mania de religioso, queria ser Deus...
7. Crispim amava a mulher, e,
desde trinta anos, nunca estiveram separados um só dia. Assim se explicam os
monólogos que ele fazia agora, e que os fâmulos lhe ouviam muita
vez:—"Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesária?
Bajulador, torpe bajulador! Só para adular ao Dr. Bacamarte. Pois agora
aguenta-te; anda, aguenta-te, alma de lacaio, fracalhão, vil, miserável. Dizes
amém a tudo, não é? aí tens o lucro, biltre!"—E muitos outros nomes feios,
que um homem não deve dizer aos outros, quanto mais a si mesmo. Daqui a
imaginar o efeito do recado é um nada. Tão depressa ele o recebeu como abriu
mão das drogas e voou à Casa Verde.
8. “..e acrescentou que era ‘caso
de matraca’. (EXPLICAÇÃO DE EXPEDIENTES)
Capítulo V, O Terror
9. Quatro dias depois, a
população de Itaguaí ouviu consternada a notícia de que um certo Costa fora
recolhido à Casa Verde.
10. Imagina-se a consternação de
Itaguaí, quando soube do caso. Não se falou em outra coisa, dizia-se que o Costa
ensandecera, no almoço, outros que de madrugada; e contavam-se os acessos, que
eram furiosos, sombrios, terríveis,—ou mansos, e até engraçados, conforme as
versões.
11. Bacamarte espetara na pobre
senhora um par de olhos agudos como punhais. Quando ela acabou, estendeu-lhe a
mão polidamente, como se o fizesse à própria esposa do vice-rei, e convidou-a a
ir falar ao primo. A mísera acreditou; ele levou-a à Casa Verde e encerrou-a na
galeria dos alucinados.
12. Tudo isso era naturalmente a
capa do velhaco. E um dos mais crédulos chegou a murmurar que sabia de outras
coisas, não as dizia, por não ter certeza plena, mas sabia, quase que podia
jurar.
13. O pobre Mateus, apenas notou
que era objeto da curiosidade ou admiração do primeiro vulto de Itaguaí redobrou
de expressão, deu outro relevo às atitudes... Triste! Triste! não fez mais do
que condenar-se; no dia seguinte, foi recolhido à Casa Verde.
14. mil outras explicações, que
não explicavam nada, tal era o produto diário da imaginação pública.
15. Três horas depois, cerca de
cinquenta convivas sentavam-se em volta da mesa de Simão Bacamarte; era o
jantar das boas-vindas. D. Evarista foi o assunto obrigado dos brindes,
discursos, versos de toda a casta, metáforas, amplificações, apólogos.
16. O atrevimento foi grande,
pensaram as duas damas. E uma e outra pediam a Deus que removesse qualquer
episódio trágico,— ou que o adiasse, ao menos para o dia seguinte. Sim, que o
adiasse.
17. D. Evarista ficou estupefata
quando soube, três dias depois, que o Martim Brito fora alojado na Casa Verde.
18. Pois o Gil Bernardes, apesar
de se saber estimado, teve medo quando lhe disseram um dia que o alienista o
trazia de olho; na madrugada seguinte fugiu da vila, mas foi logo apanhado e
conduzido à Casa Verde.
Capítulo VI: A Rebelião
19. "essa Bastilha da razão
humana", — expressão que ouvira a um poeta local e que ele repetiu com
muita ênfase. Disse, e a um sinal todos saíram com ele.
20. Entretanto, a arruaça
crescia. Já não eram trinta, mas trezentas pessoas que acompanhavam o barbeiro,
cuja alcunha familiar deve ser mencionada, porque ela deu o nome à revolta;
chamavam-lhe o Canjica—e o movimento ficou célebre com o nome de revolta dos
Canjicas.
21. D. Evarista teve notícia da
rebelião antes que ela chegasse; veio dar-lha uma de suas crias. Ela provava
nessa ocasião um vestido de seda,—um dos trinta e sete que trouxera do Rio de
Janeiro,—e não quis crer.
—Há de ser alguma patuscada,
dizia ela, mudando a posição de um alfinete. Benedita, vê se a barra
está boa.
—Está, sinhá, respondia a mucama
de cócoras no chão, está boa. Sinhá vira um bocadinho. Assim. Está muito
boa.
—Não é patuscada, não, senhora;
eles estão gritando: — Morra o Dr. Bacamarte!!! o tirano! dizia o moleque
assustado.
—Cala a boca, tolo! Benedita, olha
aí do lado esquerdo; não parece que a costura está um pouco enviesada? A risca
azul não segue até abaixo; está muito feio assim; é preciso descoser para ficar
igualzinho e...
22. O barbeiro tornou logo a si
e, agitando o chapéu, convidou os amigos à demolição da Casa Verde; poucas
vozes e frouxas lhe responderam. Foi nesse momento decisivo que o barbeiro
sentiu despontar em si a ambição do governo; pareceu-lhe então que, demolindo a
Casa Verde e derrocando a influência do alienista, chegaria a apoderar-se da
Câmara, dominar as demais autoridades e constituir-se senhor de Itaguaí.
Capítulo VII: O Inesperado
23. A derrota dos Canjicas estava
iminente quando um terço dos dragões,—qualquer que fosse o motivo, as crônicas
não o declaram,—passou subitamente para o lado da rebelião.
Capítulo VIII: As angústias do
Boticário
24. o seu ato, portanto, foi de
egoísta, de um miserável egoísta; minha situação é outra Insistindo, porém, a
mulher, não achou Crispim Soares outra saída em tal crise senão adoecer;
declarou-se doente e meteu-se na cama.
Capítulo IX: Dois lindos casos
25. Engana-se Vossa Senhoria,
disse o barbeiro depois de alguma pausa, engana-se em atribuir ao governo
intenções vandálicas. Com razão ou sem ela, a opinião crê que a maior parte dos
doidos ali metidos estão em seu perfeito juízo, mas o governo reconhece que a
questão é puramente científica e não cogita em resolver com posturas as
questões científicas.. Demais, a Casa Verde é uma instituição pública; tal a
aceitamos das mãos da Câmara dissolvida. Há, entretanto, — por força que há de
haver um alvitre intermédio que restitua o sossego ao espírito público.
26. Só vos recomendo ordem. E
ordem, meus amigos, é a base do governo...
27. João Pina mostrou claramente,
com grandes frases, que o ato de Porfírio era um simples aparato, um engodo, em
que o povo não devia crer. Duas horas depois caía Porfírio! ignominiosamente e
João Pina assumia a difícil tarefa do governo.
28. Ele respeitava as namoradas e
não poupava as namoradeiras, dizendo que as primeiras cediam a um impulso
natural e as segundas a um vício. Se um homem era avaro ou pródigo, ia do mesmo
modo para a Casa Verde; daí a alegação de que não havia regra para a completa
sanidade mental.
Capítulo XI: O Assombro de
Itaguaí
29. que, desse exame e do fato
estatístico resultara para ele a convicção de que a verdadeira doutrina não era
aquela, mas a oposta, e portanto que se devia admitir como normal e exemplar o
desequilíbrio das faculdades
Capítulo XII: O final do
parágrafo IV
30. João Pina foi absolvido,
atendendo-se a que ele derrocara um rebelde. Os cronistas pensam que deste fato
é que nasceu o nosso adágio:—ladrão que furta ladrão tem cem anos de
perdão;—adágio imoral, é verdade, mas grandemente útil.
31. Entretanto, a Câmara que
respondera ao ofício de Simão Bacamarte com a ressalva de que oportunamente
estatuiria em relação ao final do § 4°, tratou enfim de legislar sobre ele. Foi
adotada sem debate uma postura autorizando o alienista a agasalhar NA CASA
VERDE AS PESSOAS QUE SE ACHASSEM NO GOZO DO PERFEITO EQUILÍBRIO DAS FACULDADES
MENTAIS.
32. Não acontecia o mesmo ao
vereador Galvão, cujo acerto na objeção feita, e cuja moderação na resposta
dada às invectivas dos colegas mostravam da parte dele um cérebro bem
organizado; pelo que rogava à Câmara que lho entregasse. A Câmara sentindo-se
ainda agravada pelo proceder do vereador Galvão, estimou o pedido do alienista,
e votou unanimemente a entrega.
33. E, parecendo-lhe vantajoso
reuni-los, porque a astúcia e velhacaria do marido poderiam de certo modo curar
a beleza moral que ele descobrira na esposa, disse Simão Bacamarte..
34. Os alienados foram alojados
por classes. Fez-se uma galeria de modestos; isto é, os loucos em quem
predominava esta perfeição moral; outra de tolerantes, outra de verídicos, outra
de símplices, outra de leais, outra de magnânimos, outra de sagazes, outra de
sinceros, etc. Naturalmente, as famílias e os amigos dos reclusos bradavam
contra a teoria; e alguns tentaram compelir a Câmara a cassar a licença. A
Câmara porém, não esquecera a linguagem do vereador Galvão, e, se cassasse a
licença, vê-lo-ia na rua e restituído ao lugar; pelo que, recusou. Simão
Bacamarte oficiou aos vereadores, não agradecendo, mas felicitando-os por esse
ato de vingança pessoal.
35. Preso por
ter cão, preso por não ter cão! exclamou o infeliz.
36. No fim de
cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde; todos curados! O vereador Galvão,
tão cruelmente afligido de moderação e equidade, teve a felicidade de perder um
tio; digo felicidade, porque o tio deixou um testamento ambíguo, e ele obteve
uma boa interpretação corrompendo os juízes e embaçando os outros herdeiros.
(Por Professor
Alves)
01. Assinale com um V as verdadeiras e com um F as
falsa.
a) ( ) Além de focalizar a loucura, O alienista é uma fábula política: o autor fala sobre o poder,
a dominação que algumas pessoas exercem sobre outras.
b) ( ) A obra pretende exaltar e promover a cidade de Itaguaí, de onde o autor é natural, e agrada a todos os seus habitantes.
c) ( ) Em O alienista, Machado de Assis antecipa as ideias revolucionárias de Freud, que mudou os critérios de análise das perturbações mentais.
d) ( ) Na obra de Machado de Assis não há propriamente mocinhos ou bandidos, mas seres humanos com toda sua complexidade.
a) ( ) Além de focalizar a loucura, O alienista é uma fábula política: o autor fala sobre o poder,
a dominação que algumas pessoas exercem sobre outras.
b) ( ) A obra pretende exaltar e promover a cidade de Itaguaí, de onde o autor é natural, e agrada a todos os seus habitantes.
c) ( ) Em O alienista, Machado de Assis antecipa as ideias revolucionárias de Freud, que mudou os critérios de análise das perturbações mentais.
d) ( ) Na obra de Machado de Assis não há propriamente mocinhos ou bandidos, mas seres humanos com toda sua complexidade.
02. Simão Bacamarte se recolhe
à Casa Verde:
a) para alcançar uma cura milagrosa.
a) para alcançar uma cura milagrosa.
b) por reunir em si a ciência e a loucura.
c) porque ameaçava a segurança pública.
d) posto que desconfiava das opiniões alheias.
e) pois contaminaria as pessoas com sua loucura
c) porque ameaçava a segurança pública.
d) posto que desconfiava das opiniões alheias.
e) pois contaminaria as pessoas com sua loucura
03. O enredo de O alienista conta com a participação de um grande
número de personagens. Vamos identificar alguns
deles, relacionando a coluna da esquerda com a da direita.
( a ) Crispim Soares ( ) Barbeiro que liderou a primeira revolta contra o alienista
( b ) Costa ( ) Farmacêutico de Itaguaí com quem o alienista troca ideias.
( c ) Mateus ( ) Comandante da segunda rebelião, que depôs o líder da
deles, relacionando a coluna da esquerda com a da direita.
( a ) Crispim Soares ( ) Barbeiro que liderou a primeira revolta contra o alienista
( b ) Costa ( ) Farmacêutico de Itaguaí com quem o alienista troca ideias.
( c ) Mateus ( ) Comandante da segunda rebelião, que depôs o líder da
primeira.
( d ) Porfírio ( ) Homem muito rico que adorava contemplar sua
própria casa.
( e ) João Pina ( ) Rico empobrecido por emprestar dinheiro a
todos ,sem se
importar com o pagamento
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