quinta-feira, 29 de abril de 2021

CAPITÃES DA AREIA

 


RESUMO

Capitães da Areia faz referência aos meninos de rua de Salvador, menores cuja vida desregrada e marginal é explicada, de uma forma geral, por tragédias familiares relacionadas à condição de miséria. O grupo de meninos que forma os Capitães se esconde em um armazém abandonado em uma das praias da capital baiana.

Os personagens que compõem o núcleo central da narrativa apresentam algumas particularidades: João Grande possui uma força bruta, o professor é lembrado pelo talento artístico, Sem-Pernas pela amargura existencial, a opressão sertaneja é representada por Volta-Seca, a sexualidade precoce por Gato, o malandro é o Boa-Vida e a tendência à religiosidade se manifesta em Pirulito. Todos são liderados por Pedro Bala, o protagonista do romance.

Órfão desde muito cedo, Bala descobre o passado de seu pai, um líder operário assassinado durante uma greve. Quem lhe dá a informação é João de Adão, organizador de greves que abre ao menino as portas da luta trabalhista. Bala prefere continuar a organizar os assaltos e roubos cometidos pelo bando, participando das ações mais perigosas. Um dia, junta-se ao bando a menina Dora, cujos pais tinham morrido em uma epidemia de malária. Vista inicialmente com desconfiança, aos poucos Dora se integra ao grupo, ganhando o respeito de todos e o amor de Pedro Bala.

Durante uma ação, Bala e Dora são presos. Ela é colocada em um orfanato, enquanto o menino é submetido à violência de torturadores que tentam obter dele o local do esconderijo dos Capitães. Bala sofre, mas nada revela. Foge do reformatório e liberta Dora. A menina, no entanto, sai doente do lugar. Em sua última noite de vida, pede ao namorado que a possua.

A morte de Dora coincide com um momento de passagem para a vida adulta dos principais membros do bando. João Grande vira marinheiro, Volta-Seca se torna cangaceiro, Pirulito entra para uma ordem religiosa e Sem-Pernas se suicida para não cair nas mãos da polícia. Por fim, Pedro Bala abandona o grupo, mas não a condição de líder, agora voltada para a vida operária. Dessa forma, continua a obra inacabada do pai.


CONTEXTO

Sobre o autor
Jorge Amado pertence à segunda geração da literatura modernista brasileira, identificada como aquela que abordou a temática nordestina. No caso do escritor baiano, essa temática foi focalizada sob o prisma do realismo socialista, que aplicava à visão artística da realidade os princípios do Marxismo, do qual o autor foi adepto, chegando a eleger-se deputado pelo Partido Comunista Brasileiro. Algumas de suas principais obras foram adaptadas para a televisão, é o caso de “Tieta do Agreste”, “Gabriela, Cravo e Canela” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Pela grande contribuição literária, Jorge Amado ganhou o Prêmio Camões em 1994.

Importância do Livro
Capitães da areia estabelece uma analogia entre a aventura que é narrada e a mensagem política que se pretende transmitir ao leitor. Possui com isso, um sentido didático que é próprio do tipo de literatura que o romance representa: aquele que é voltado para o trabalho de conscientização política. No âmbito da literatura, Jorge Amado foi um dos primeiros a abordar a questão dos menores de rua de uma perspectiva social e não simplesmente policial.

Período histórico
Quando o romance foi publicado, em 1937, autoridades baianas queimaram exemplares em praça pública. O episódio dá o tom do clima político da época, com o início da ditadura getulista do Estado Novo a repressão começava a mostrar as suas garras.

ANÁLISE

livro se inscreve na categoria do romance de aventuras, com a narrativa estruturada em uma sucessão de episódios vividos pelo bando de garotos, que vão desde ações criminosas, como roubos a residências, até a recuperação de uma imagem de candomblé apreendida pela polícia.

Muito do livro faz pensar em Peter Pan, personagem de J. M. Barrie. O armazém em Salvador é uma espécie de Terra do Nunca, onde só vivem meninos abandonados, e o líder é homônimo: Peter = Pedro. Pode-se propor ainda a semelhança com Robin Hood, que roubava dos ricos (as casas chiques de Salvador) para distribuir entre os pobres (os próprios membros do bando). A semelhança de nomes do melhor amigo do líder também pode ser relacionada, Little John, isto é, Pequeno João, na narrativa inglesa é um apelido irônico, já que se refere a alguém de estatura tão elevada quanto a de João Grande do romance de Jorge Amado.

Pedro Bala possui muito do herói romântico: valentia, coragem e capacidade de se sacrificar pelo grupo. Mas talvez fosse melhor vê-lo como mais um anti-herói da nossa literatura, já que se dedica a crimes, chegando em uma passagem do romance a estuprar uma garota. Outra marca forte do modelo romântico é a figura de Dora, tanto por sua concepção idealizada, quanto pelo final triste da morte.

Porém, de mãos dadas com a ficção está a realidade baiana, evidenciada em traços como o preconceito das elites para com os meninos, as greves de trabalhadores, a ação repressora da força policial e, elemento bastante realçado na obra, o sincretismo religioso, que mistura referências católicas a ritos afro-brasileiros. O esforço de conscientização do leitor é evidente na obra de Jorge Amado, sendo conduzido com a perícia de um grande contador de histórias, criador de narrativas envolventes. 

Os adultos participam da narrativa, divididos em dois grupos bem distintos. De um lado, aqueles que rejeitam os meninos: as beatas, os policiais e todos aqueles ligados aos espaços repressivos do reformatório e do orfanato. De outro lado, os cúmplices, como o amigo capoeirista Querido-de-Deus, o padre João Pedro e Don’Aninha, mãe-de-santo.

A simpatia do narrador pelos Capitães da Areia é bastante evidente. Ele os vê como vítimas de uma sociedade injusta, aproximando-os da condição de marginalizados, na qual se identificam com as classes trabalhadoras. O resultado dessa aproximação é sugerido pela trajetória do líder Pedro Bala: conforme cresce, toma consciência da realidade à sua volta, terminando por integrar-se à luta política. Menino órfão, Pedro encontra uma família na revolução socialista – ideal político do autor e explícito no livro.


PERSONAGENS

- Pedro Bala: chefe dos Capitães da Areia, descobre que o pai foi morto durante uma greve sindical. Termina o romance como líder socialista.

- Dora: única mulher do grupo, é namorada de Pedro Bala e vista com mãe pelos outros meninos. 

- João Grande: notável pela força física e pela obediência que devota a Pedro Bala. É quem protege os novatos do bando.

- Professor: menino culto e pintor de talento, era o responsável por planejar os roubos do bando.

- Sem-Pernas: garoto coxo, que manifesta ceticismo e amargura. Era muito utilizado nos assaltos para enganar os moradores das casas.

- Gato: o sedutor do grupo, participava de planos arriscados e tinha um caso com Dalva, uma mulher da vida.

- Pirulito: menino que, aos poucos, descobre a religião. Pratica apenas os roubos necessários à sobrevivência.

- Boa-Vida: personagem marcada pela malandragem e pela capacidade de sacrifício.

- Volta-Seca: de origem nordestina, torna-se cangaceiro ao sair do bando.

- Padre José Pedro: religioso que manifesta genuíno interesse pelos Capitães.

- João de Adão: líder operário, o estivador conheceu o pai de Pedro Bala e contou ao menino como foi a sua morte.


VIDAS SECAS

Vidas Secas é um romance de Graciliano Ramos publicado em 1938. A obra faz parte da segunda fase do modernismo (geração de 1930).

O livro aborda a pobreza e as dificuldades da vida do retirante no sertão nordestino, narrando as fugas de Fabiano e da sua família da seca.



Resumo da obra

Fabiano, sua mulher e os filhos fogem da seca no sertão nordestino até encontrarem uma fazenda abandonada. Sem condições de continuar a viagem, eles se instalam nela. Poucos dias depois, a chuva chega ao sertão. O dono da fazenda aparece e Fabiano é contratado como vaqueiro.

Durante este período, Fabiano é preso, sua esposa Sinhá Vitória sonha com uma cama de amarração de couro, o menino mais velho pergunta sobre palavras e o menino mais novo tenta montar em um cabrito.

A vida de vaqueiro segue até que a próxima seca os expulsa novamente. A família deixa a fazenda e parte para o sul em busca de sobrevivência.

Análise da obra

Contexto histórico

A obra foi escrita durante a década de 30, período de grande turbulência política no Brasil e no mundo. Os Estados Unidos viviam uma grande crise econômica e a Europa se recuperava do fim da Primeira Guerra. O Brasil era comandado por Getúlio Vargas que, em 1937, instalou o Estado Novo, um regime autoritário e anticomunista.

Graciliano Ramos era influenciado pelo marxismo. Chegou a ser preso durante o Estado Novo e se filiou ao Partido Comunista Brasileiro em 1945.

Em Vidas Secas, Graciliano enfatiza como Fabiano é explorado pelo dono da fazenda: seu patrão o rouba nas contas, cobra preços abusivos pelos mantimentos e juros altíssimos. No final, Fabiano foge da seca e da dívida que tem com o seu patrão. Mesmo após trabalhar mais de um ano, ele continua sem nenhuma posse.

Ilustração de Fabiano por Aldemir Martins.

As influências ficam claras quando Graciliano retrata a miséria de Fabiano. Essa miséria torna o homem bruto e ele mesmo se vê mais como um bicho do que como um ser humano.

A condição de homem bruto faz com que Fabiano seja explorado pelo seu patrão e oprimido pelo governo. Mesmo que a miséria venha pelas condições da natureza (a seca), os homens se aproveitam dela em vez de ajudar aqueles que mais precisam.

Corrente literária

Vidas Secas é um romance regionalista que faz parte da segunda geração do modernismo, também conhecida como geração de 30.

Essa fase é caracterizada pela consolidação dos marcos da Semana de Arte Moderna de 1922. A busca por uma literatura nacional levou os autores a procurar em suas regiões matéria-prima para as suas obras.

No caso de Graciliano Ramos a fonte foi o sertão. O livro é cheio de termos regionais e a escrita se aproxima mais da fala. Os temas sociais voltam para a literatura que agora também tem o papel de denunciar a miséria e a exploração.

A maior liberdade formal também possibilita novas experiências na narrativa. Em Vidas Secas observa-se isso nos capítulos que são soltos - não há uma linearidade que una os capítulos como costumava acontecer com os romances. Eles são quase como contos com as suas narrativas próprias.

Outra característica marcante é o aprofundamento psicológico das personagens. Nesta obra, o autor retrata pessoas simples, mas com complexidades, tornando-as personagens profundas.

Personagens

Fabiano

É o pai da família, um homem bruto, que muitas vezes se confunde com um bicho. Fala pouco e se comunica mais com grunhidos. É um homem bravo, com o coração perto da goela, porém respeita as autoridades.

Sinhá Vitória

É a mãe, assim como o marido também não fala muito. Seu maior desejo é uma cama de armação de couro.

Os filhos

Os filhos são o menino mais novo e o menino mais velho (atenção para o fato dos meninos em momento algum serem nomeados). O primeiro tem mais admiração pelo pai e quer ser igual a ele. O segundo gosta mais das palavras, queria que seus pais falassem mais, fica mais perto da mãe porque ela não é tão bruta.

Baleia

Baleia é a cachorra da família e a personagem que mais se assemelha a um ser humano. É a única personagem do romance que sente angústia e que, mesmo sem falar, sabe se comunicar melhor que os outros membros da família.

Personagens secundários

Os outros personagens menores são o Soldado Amarelo, que prende Fabiano injustamente, o patrão de Fabiano e o Seu Tomás, que só aparece nas lembranças da família. Seu Tomás era um homem abastado, inteligente e que lia muito, porém isso de nada lhe serviu quando a seca chegou e ele também teve que abandonar a fazenda.

Aspectos de destaque na obra

Graciliano Ramos representa com primor a miséria do retirante ao retratar os humanos como bichos e os bichos (a Baleia) como humanos. Fabiano se confunde com um animal por ser bruto, se comunicar com grunhidos, e está à mercê da natureza (da seca e da chuva).

Fabiano quer se revoltar contra as injustiças que sofre por parte do patrão e do soldado amarelo, porém, como um animal domesticado, aceita os maus-tratos. As crianças seguem pelo mesmo caminho. Sem educação, aprendem com os pais como viver, ouvindo poucas palavras e levando muitos safanões.

Já a Baleia tem sonhos, se comunica com o seu corpo de forma mais eficaz que os humanos se comunicam com as palavras. Salva a família da fome no começo do livro e o capítulo de sua morte é um dos trechos mais bonitos da prosa brasileira.

Ilustração da Baleia por Aldemir Martins.

Resumo por capítulo

Mudança

O primeiro capítulo do livro retrata Fabiano, sua mulher e os filhos andando pelo sertão até a chegada a uma fazenda abandonada. Com muita fome, sede e sem condições de prosseguir viagem, eles se instalam por lá. O capítulo termina com uma façanha da cachorra Baleia, que caça um preá e salva todos da fome.

Fabiano

Chove no sertão. Com o fim da seca, o dono da fazenda regressa. Fabiano é contratado como vaqueiro. Ele se questiona se é um homem ou um bicho.

Cadeia

Fabiano vai para a cidade comprar mantimentos, se envolve num jogo de cartas com um soldado amarelo e acaba sendo preso. Fabiano não sabe falar direito e a falta de comunicação o coloca na prisão injustamente.

Sinhá Vitória

Nesse capítulo, há uma espécie de apresentação dessa personagem e da sua relação com as pessoas da sua família. Sinhá Vitória narra os seus afazeres domésticos enquanto o marido dorme na rede. O único sonho de Sinhá Vitória é uma cama de armação de couro.

O menino mais novo

Narra a admiração que esse personagem tem pelo seu pai, especialmente quando o vê vestido de vaqueiro montando uma égua brava. De tão admirado, o menino mais novo tenta montar uma cabra para imitar o pai, mas sem sucesso.

O menino mais velho

Ele quer saber o que é inferno, uma palavra muito bonita que ele ouve, mas não sabe o que significa. Procura a mãe para ajudá-lo pois seu pai é muito bruto. Porém, a resposta da sua mãe também não o satisfaz. Ele não acredita que uma palavra tão bonita seja o nome de um lugar tão ruim.

Ilustração do menino mais velho e Sinhá Vitória por Aldemir Martins.

Inverno

É o momento em que as chuvas alagam o sertão. A família tem medo de morrer afogada. No entanto, a chuva também afasta o medo da fome e da seca. Enquanto chove, eles ficam dentro de casa ouvindo as histórias de Fabiano, que são inventadas e com pouca verossimilhança.

Festa

Toda a família se arruma para ir a um evento de Natal da cidade. Porém, no meio do caminho, todos já estão descalços e com lama nos pés. Fabiano bebe muita cachaça, tenta arrumar briga e depois dorme no chão usando as roupas como apoio. Sinhá Vitória admira a quermesse e a beleza das coisas, sonhando em ter uma cama de verdade, e os meninos andam atrás da cachorra.

Baleia

É o nono capítulo e o mais marcante do livro. Fabiano que sacrificar a cachorra que está doente. Mas o tiro não sai preciso e acerta as nádegas da Baleia. Ela consegue escapar até o lamaçal. Ferida e à beira da morte, Baleia pensa no ocorrido de forma confusa: pensa nas suas obrigações de cuidar do gado, das crianças e na sua casa. No final ela morre sonhando com um paraíso, um mundo cheio de preás e um Fabiano enorme.

Contas

O patrão trata Fabiano de forma injusta. Ele tem direito a uma parte do gado, mas fora isso tem que recorrer à dispensa do patrão para outros mantimentos. O patrão cobra tudo muito caro e logo Fabiano gasta mais do que ganha. Ele fica endividado com o patrão, que cobra juros. Fabiano esboça uma revolta, mas aceita as contas do patrão por medo de ser demitido.

O Soldado Amarelo

Fabiano reencontra o soldado amarelo sozinho e perdido nas veredas. Ele pensa em se vingar do soldado, mas desiste e o ajuda a achar o seu caminho.

O mundo coberto de penas

As aves estão levantando voo e partindo para o sul. Este é o sinal que a seca está voltando. Fabiano vê as aves e fica com raiva.

Fuga

A seca volta e a fazenda já não oferece mais subsistência. A família parte pelo sertão em direção ao sul em busca de uma cidade grande.

"O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos."

segunda-feira, 12 de abril de 2021

MODERNISMO PRIMEIRA GERAÇÃO E CONCORDÂNCIA NOMINAL

FUNÇÕES DA LITERATURA E TROVADORISMO